FALA PROFESSOR !

Espaço reservado para artigos e resenhas dos nossos professores.


Os textos enviados, foi uma contribuição da Professora  Maria das Graças Pereira Guedes, Pós-Graduanda em Alfabetização de Crianças das classes Populares-UFF/RJ.


Como alfabetizar a partir de experiências significativas para/das crianças das Classes populares?

            Toda criança quando vem para a escola já trás consigo saberes e experiências, ainda que estes não tenham sido sistematizados. Assim, alfabetizar a partir de experiências significativas para crianças de classes populares é abrir espaço para o diálogo, ouvir e aprender a conhecer o aluno e esta realidade vivenciada por ele. E a partir, deste diálogo contínuo com a realidade do aluno, trabalhar e apresentar também novos conhecimentos e habilidades, para que se perceba enquanto cidadão e integrante da escola e da sociedade.
            Paulo Freire demonstrou isso, quando alfabetizou adultos trabalhadores, se apropriando de saberes e palavras que estes utilizavam para integrar sua “aula”. Devemos hoje também nos apropriar de músicas, falas, discursos, ditados populares, entre outras coisas para nos aproximarmos destes alunos e alfabetizá-los significativamente, tornando a escola mais próxima de sua vivência e meio social.    

Maria das Graças Pereira Guedes

" Ler não é decifrar, escrever não é copiar".

Muito antes de iniciar o processo formal de aprendizagem da leitura/escrita, as crianças constroem hipóteses sobre este objeto de conhecimento.
Segundo Emília Ferreiro e Ana Teberowsky (pedagoga de Barcelona), pesquisadoras reconhecidas internacionalmente por seus trabalhos sobre alfabetização, a grande maioria das crianças, na faixa dos seis anos, faz corretamente a distinção entre texto e desenho, sabendo que o que se pode ler é aquilo que contém letras, embora algumas ainda persistam na hipótese de que tanto se pode ler as letras quanto os desenhos. É bastante significativo que estas crianças  pertençam às classes sociais mais pobres que por isso acabam tendo um menor contato com material escrito.
O processo de construção da escrita
Na fase 1, início dessa construção, as tentativas das crianças dão-se no sentido da reprodução dos traços básicos da escrita com que elas se deparam no cotidiano. O que vale é a intenção, pois, embora o traçado seja semelhante, cada um "lê" em seus rabiscos aquilo que quis escrever. Desta maneira, cada um só pode interpretar a sua própria escrita, e não a dos outros. Nesta fase, a criança elabora a hipótese de que a escrita dos nomes é proporcional ao tamanho do objeto ou ser a que está se  referindo.
 
Na fase 2, a hipótese central é de que para ler coisas diferentes é preciso usar formas diferentes. A criança procura combinar de várias maneiras as poucas formas de letras que é capaz de reproduzir.
Nesta fase, ao tentar escrever, a criança respeita duas exigências básicas: a quantidade de letras (nunca inferior a três) e a variedade entre elas, (não podem ser repetidas).
 
Na fase 3, são feitas tentativas de dar um valor sonoro a cada uma das letras que compõem a palavra. Surge a chamada hipótese silábica, isto é, cada grafia traçada corresponde a uma sílaba pronunciada, podendo ser usadas letras ou outro tipo de grafia. Há, neste momento, um conflito entre a hipótese silábica e a quantidade mínima de letras exigida para que a escrita possa ser lida.
A criança, neste nível, trabalhando com a hipótese silábica, precisa usar duas formas gráficas para escrever palavras com duas sílabas, o que vai de encontro às suas idéias iniciais de que são necessários, pelo menos três caracteres. Este conflito a faz caminhar para outra fase.
 
Na fase 4 ocorre, então a transição da hipótese silábica para a alfabética. O conflito que se estabeleceu - entre uma exigência interna da própria criança ( o número mínimo de grafias ) e a realidade das formas que o meio lhe oferece, faz com que ela procure soluções.Ela, então, começa a perceber que escrever é representar progressivamente as partes sonoras das palavras, ainda que não o faça corretamente.
 
Na fase 5, finalmente, é atingido o estágio da escrita alfabética, pela compreensão de que a cada um dos caracteres da escrita corresponde valores menores que a sílaba, e que uma palavra, se tiver duas sílabas, exigindo, portanto, dois movimentos para ser pronunciada, necessitará mais do que duas letras para ser escrita e a existência de uma regra produtiva que lhes permite, a partir desses elementos simples, formar a representação de inúmeras sílabas, mesmo aquelas sobre as quais não se tenham exercitado.

FONTE:  http://www.centrorefeducacional.com.br/contribu.html